domingo, 19 de outubro de 2008

Um brinde a independência

Um amigo me disse esses dias, "estava sem nada para fazer, sentei minha bunda no computador, li meus emails, vi a porcaria do orkut, li algumas notícias e fui ver se tinhas atualizado a merda do teu blog". Junto com a merda ele disse "teu último texto era tão chato, que não li duas linhas". Porque diabos ele queria ler algo que ele julgava uma merda chata? Cheguei a conclusão que as pessoas gostam do sofrimento alheio para sentir superioridade das suas vidas medíocres, superficiais e repletas de futilidades. O fato de você ser mais sensível que as outras pessoas lhes dá abertura para chamarem de idiota. Como se você escutasse tudo e sorrisse sutilmente para disfarçar a ânsia de nojo. Mal sabem elas que minhas críticas mentais são mais importantes para o meu mundo. Porque foda-se o que você pessoa insensível pensa sobre mim. Foda-se! “Clarice” me entenderia, e pra mim isso me basta. Mas dando uma olhada nos meus antigos textos notei como minha vida mudou nos últimos tempos, falando em tempo, ele decidiu transformar os segundos em notas de reais. Sou uma nova pessoa, ou uma pessoa nova, que ainda não sabe se está do lado dos medíocres hipócritas ou do lado dos sensíveis depressivos. Tudo que sempre sonhei aconteceu, estou morando "sozinha", faço minha comida, lavo a minha roupa, limpo a "minha" casa. Estou sozinha, sozinha. Chego em casa e dou boa noite aos travesseiros e aos poucos bichos de pelúcia que me acompanharam. Não sofro mais de problemas financeiros, sou uma profissional que ganha por aquilo que merece. Mas porque diabos não me sinto feliz? Lembrei do velho ditado, dinheiro não traz felicidade. Tenho dinheiro e não tenho com quem gastar, porque meus amigos estão no passado que julgava ser fracassado, porque contávamos os reais para rachar a conta e a gasolina. Você nunca está feliz com o que tem, o ser humano é passivo de ser infeliz, não existe conto de fadas, não existe final feliz, existe o momento feliz na exata hora que ele acontece, o momento triste que depois vira piada e se torna um momento feliz, e o para sempre momento triste, esse realmente notamos na hora, depois nossos cérebros, ou seriam corações? Fazem questão de esquecer. Estão acontecendo coisas diferentes comigo, sempre achei que não conseguiria sobreviver sem um rádio, sem uma tv e sem internet. Estou sobrevivendo, ou melhor, descobri que posso viver até melhor sem eles. Fugi da papagaiada política, da voz do Brasil, dos seqüestros e assaltos, das novelas. Sinto falta dos filmes, somente dos filmes. Descobri que não conseguiria viver sem microondas, e eu nunca tinha notado a importância dele em minha vida. Talvez porque tinha tempo e a minha comida quentinha em cima da mesa.
Vou comprar um carro, a chuva andou me atormentando nos últimos dias em que minha meia ficou molhada dias inteiros. Vou ter um carro e ele pode até ser cabine dupla porque não tenho companhia. Vou colocar silicone, porque estou cansada da falta que faz ter peito grande quando tiro os enchimentos. O mundo me comprou, estou usando uniforme azul marinho e feliz, porque ele agora me dá um bom retorno financeiro.
Minha mãe me disse que meu cachorro está tomando antidepressivo e eu só penso em substituí-lo por outro para não precisar me encher deles também.
Meu namorado estava mais perto antes, tínhamos o computador que nos unia, agora tenho contas de telefone gigantescas, mas foda-se porque é meu único gasto ultimamente. Falando em namorado ele me pediu em casamento há tempos atrás, e agora eu o pedi, e de certa forma nenhum dos dois aceitou. Como uma música nada romântica. Cada um no seu quadrado foi o que a vida decidiu por nós, ou nós decidimos para vida. No fim do ano passaremos dias juntos, estamos programando as horas, quer dizer eu estou sempre programando e ele sempre reclamando do pouco tempo, mas porque ele não me ajuda a programar? Não sei, Não sei...
Sinto falta da minha mãe e do beijo que ela me dava quando chegava em casa. Sinto falta das brigas por não limpar a casa, ela sentiria orgulho de mim em chegar à minha casa e ver a limpeza no chão, nas pias e no banheiro. Sentiria pena se visse a sujeira no meu coração. Virei gente grande, tenho um bom trabalho, boas revistas, boas toalhas e lençóis novos. Sou dona do meu nariz, não dou satisfações, sou dona da independência que criei. E dona da solidão que sustento. Não tenho nada, nem ninguém.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

"Chega de saudade"



Faz alguns segundos que você se foi, e tudo acabou da
exata forma que começou: Rápido, sem muitas enrrolações. Nem por isso foi menos sofrido, sentido, minhas lágrimas inundam o teclado, minhas mãos tremem digitando em busca de alívio.
Até para terminar você consegue ser correto, carinhoso, sincero. Queria enfiar minha cabeça entre as pernas e cantarolar cantigas de quando era criança. Era assim que fazia quando queria que algo passasse logo. Quando meus pais brigavam, eu me trancava no banheiro, com a cabeça entre as pernas e mãos no ouvido, cantava baixinho para não escutar os gritos desrespeitosos que ardiam meu peito e olhos. Quem dera desse certo agora.
Sinto segundos desejáveis de suicídio, vontade de pular de cima de uma montanha com o dedo desejando um último foda-se ao mundo. Nem que fosse para fazer barulho e sujar o chão dos equilibrados. Nem que fosse para fazer falta a poucas pessoas. Olhos inchados, boca cheia, coração apertando o peito, língua encharcada, a vida latejando e o corpo pesado demais para voar.
Dessa vez achei que o amor perduraria para sempre, cheguei a acreditar que casaríamos e teríamos nossa casa de tijolinhos com cerquinha branca. Você foi meu futuro marido, gostei de imaginá-lo. Meu macho de ombros largos de proteção e abraço eterno. Mãos grandes que serviram para tudo: desde atravessar a rua segura até sentir prazer sem medo das horas.
Contado dessa forma parece bem que a culpa foi sua em ter abandonado nossos sonhos, mas respeite e perdoe minha indelicadeza, às vezes gosto de me fazer de vítima, gosto do abraço que me oferecem quando fazem mal a mim, estou fugindo de olhares censurosos por isso fica mais fácil te culpar.
Ando falsa, fazida, estúpida. Quer saber? Bem que você fez, em tirar-me da sua vida. Mais cedo ou mais tarde iriam começar aparecer meus defeitos. E pode acreditar, sou cheia deles. Estou de saco cheio de me agüentar, e eu ao menos posso terminar comigo. Ou posso? Estou até a borda de mim. Entupida de tudo o que passiva em ser, apenas sou. Sou um trapo sujo que lavo e contorço todos os segundos, mas não o tanto que deveria por falta de força, preguiça e do maldito medo.
Está um escuro total, todos estão dormindo, e eu estou mais sozinha do que nunca, estou deitada sem o menor sono. Respiro fundo com a cara enfiada no travesseiro tentando encontrar um resto da nossa esperança. Por alguns segundos penso em ficar assim: com a cara enfiada sem encarar a vida e sem respirar por muito tempo. Nada é claro e esperar o dia amanhecer não vai adiantar.
Seu sorriso separado há meses do meu existe apenas em saudade e imaginação. Eu sinto um pesar de morte sobre os olhos e sempre escapa uma lágrima tentando acalmar a secura do peito. Sinto covardia lúcida ao olhar minhas pernas que não correm mais ao seu encontro. O fato é que nunca viveremos o desgaste e para sempre viveremos com a falsa impressão da perfeição, o que dói ainda mais.
Gosta de comer devagar, partindo os pedacinhos microscopicamente como se saboreasse o mundo. E gosta muito, entre outras coisas, de me comer. E me come o dia inteiro. E quando ele não me come é porque precisa respeitar minhas dores e alergias, então faz carinhos em meu cabelo. Gosta de livros logosóficos, de um bom vinho ou de uma cerveja bem gelada. Gosta também de varanda, de deitar na rede e ver a tarde se indo, sentindo o cheiro da brisa que bate o rosto.
Eu o invejo. Sempre contente com as pequenas coisas, ao contrário de mim, sempre buscando mais e mais, sempre confusa, perdida, deprimida. Quis sugar sua vida, e me perdi. Incapaz de me sentir por medo de ser inteira.
Tinha muito medo que as pessoas sem profundidade conhecessem a minha, e mais medo ainda de que a profundidade do mundo me cuspisse. Engraçado, agora temo a sua profundidade e minha superficialidade.
Duas vezes eu quase morri de saudades de você. Uma quando eu vi Closer e lembrei que o amor, como deveria, não existe. E agora quando escuto sem cansar “Chega de saudade” e lembro que você era um pedaço charmoso de tudo o que o mundo e a vida têm de mais charmoso. Dói pensar ou aceitar que esse pedaço não existe mais. Morremos, enterramos nossos sonhos, e eu choro de luto sem teatro, de luto de planos, promessas, de resto de luto do amor que ainda tenho. Acabaram-se os três pontinhos, demos o ponto final com a dureza e a clareza do fim de uma história sem final feliz.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Por que se vive?


Fazia muito tempo que eu não questionava o porquê da minha existência. Acho que a última vez foi quando descobri que o cara que eu achava ser o homem da minha vida, era uma bosta de um cara. Na verdade a penúltima vez também foi por decepção, descobri que meu pai não era nenhum herói, e eu não era a princesinha importante que ele dizia. Há pouco tempo voltei a me questionar por qual motivo estou nesse mundo. Dessa vez não foi por nenhuma decepção com alguém importante, mas porque minha cabeça anda um turbilhão de incertezas, inseguranças. Fiquei um dia todo me perguntando "Por que se vive? Para que vivemos?". Então resolvi fazer a pergunta para alguns amigos que tive contato no dia em que inúmeros questionamentos atortoavam minha mente.


Afinal: POR QUE SE VIVE?


Eis as respostas:


3 pessoas = Porque comemos, respiramos e bebemos água. (Marcos Viudes, Deysi Quadros, Paulo Lucena)
2 pessoas = Para cumprir uma missão na terra (Daniel Portelli, Natália Menegazzo)

2 pessoas = Para encontrar a felicidade (Thiago Retamero e Carolina Alvares)

2 pessoas = Vivo por minha família (Simone Losso e Dilce Coide)

1 pessoa = Para procriação (Luciano Rockett)

1 pessoa =Para trabalhar, pagar as contas e trepar (Junior Correa)

1 pessoa = Para trepar (Felipe da Silva)

1 pessoa= Para se aproximar de Deus (Rodrigo JB)

1 pessoa = Para te amar e ser ignorado (Iramar Jorge)

1 pessoa = Para aprender e evoluir (Rafaela Pereira)

1 pessoa = Para comer e peidar feijão (Emanuella Mello)

1 pessoa = Porque nos foi imposto, somente a natureza saberia explicar (Helano Scoss)

1 pessoa = Para viver e eternizar momentos (Antonio Coelho)

1 pessoa = Para se divertir (Raquel Mussatto)

Quando eu era criança achava que tinha nascido para virar gente grande, acreditava que quando virasse adulta todos os meus problemas se solucionariam, eu teria liberdade, dinheiro, votaria, enfim feliz para sempre. Engraçado, hoje gente grande, ainda espero que o tempo passe para responder minhas perguntas, minhas dúvidas. Meus pais me impuseram tal condição e eu tive que aceitar. Minha mãe inúmeras vezes disse que eu nasci de um acidente. Bom se nem ela queria, e se eu também não podia dizer o queria, porque estou aqui? Caralho! meus pais só queriam trepar e eu aqui estou pagando o pato. Literalmente me fudendo pela fudida deles. Eu nasci para usar franjinhas, rendinhas, cruzar as pernas e não falar palavrão. Me deram muitos brinquedos para me distrair, e muitas broncas para ter bons modos. O máximo que eu podia fazer era brincar com meus presentes sem sujar a roupa, sem correr e sem gritar. Seguir respirando, acordando, escovando os dentes após as refeições, e indo ao banheiro após comer uva passa.

Mais tarde, quando virei adolescente eu vivia por desobedecer minha mãe, desafiar meu pai, mentir para minhas amigas que tirava péssimas notas, quando na verdade era uma das melhores da turma, mas não era bonito ser CDF, com certeza não era cool. Nessa época vivi por Chico Buarque. A única coisa que podia ser, era viver pra sentir o coração disparar quando ouvia Chico cantar, e parecia que era para mim, sempre era. Só podia ser isso! Ou se vive pra estudar matemática? Física? Comer legumes?

Tempos mais tarde me apaixonei por Che Guevara e seu movimento revolucionário, passei a ler Machado de Assis encantada com Dom Casmurro. Foi aí que me dei conta que eu vivia para ser alguém na vida, assim como as pessoas que eu admirava. Descobri que estudar mais importante que ser bonito era preciso, queria entrar numa universidade pública e arrumar um emprego. Nesse tempo eu quis 549 cursos, os quais desencantei 549 vezes. E nesse tempo todo fui vários “alguém” e nenhum alguém 549 vezes. Porque ser alguém não tem nada a ver com essa vontade desesperada de ser alguém. E continuei sem saber afinal para o que se vive. Porque a faculdade e o deslumbre com os primeiros dias de trabalho são espaços curtos demais para uma vida inteira. Não se vive exclusivamente para pagar as contas no final do mês e ficar feliz em um final de dia de trabalho. Não se vive pra pegar uma lotação as 22 horas e torcer para ter lembrado de ter comprado pão integral antes de ir trabalhar, porque depois das dez tudo está fechado. Não se vive para ter uma chefe que tira uma vírgula sua e coloca em outro lugar só pra mostrar que é sua chefe. Definitivamente não se vive pra isso.

Será que para salvar as criancinhas, o planeta, os animaizinhos, os aposentados, as árvores, as praias, as formigas? Ou seria para voltar a ser o que era antes, a rebelde sem causa, dividida pelo amor de Chico e Che? Não, não se vive pra mudar o mundo, o bairro, meu quarto, que nem é somente meu. Porque a gente não muda nem o jeito de escovar os dentes. Essa é a verdade.

Foi aí que achei que vivemos para nos divertir, fazer o que gostamos e ponto final. Como se fosse uma missão para a qual Deus nos enviou. Mas como saber qual seria a minha missão? Qual o meu dom? Ler? Dançar? Falar mal dos outros? Listei as coisas que mais gosto de fazer e pensei: “eu vivo para isso!”. Comecei então a fazer exatamente essas coisas, mas vi que não tinha graça nenhuma dançar sem par, escrever para que ninguém lesse, ver comédia e rir sozinha. Nada tinha graça, viver sozinho não tinha graça.

Aí descobri que se vive para as pessoas. Se você tem dez pessoas de quem gosta muito, taí um motivo para se viver. E eu gostava mais ou menos disso: de dez pessoas. E vivia para isso. Para no final de semana tomar cerveja com uma dessas pessoas e brindar o mistério que é não saber pra que se vive. E eu e minhas dez pessoas viveríamos bem até a eternidade... Mas não foi isso que aconteceu, o para sempre não existe, as pessoas mudam, casam, vão morar longe, resolvem te achar sem graça e você começa a não ver mais graça na compania delas, resolvem não beber mais cerveja porque estão mais velhas e porque cerveja dá barriga. Infelizmente não se vive para as pessoas.

Foi então que cheguei a pensar que talvez se viva para dormir. Passei a desligar o telefone pelas manhãs. Colocamos Blackout nas janelas. Meu lema era dormir, dormir, dormir. Para nunca mais pensar pra que se vive. E quem disse que dá certo? Eu sonhava toda noite que percorria o mundo atrás da mesma pergunta. E sonhava com escritores sábios, meus coleguinhas do primário, meus ex namorados, meu avô, um boi morto, sonhava que tava caindo do precipício, com a novela das oito, sei lá. Eu percorria o mundo atrás da resposta. E acordava cansada e com mais sono. Descobri que dormir não resolveria meu problema.

Coloquei na cabeça que nascemos pra gerar vida! Eu provavelmente saberia o porquê da minha existência quando fosse mãe. A idéia começou a me assustar quando vi que não tinha suporte financeiro para tal vontade, e dias mais tarde vi que nem suporte psicológico eu tinha. Eu deveria estar maluca quando quis ter um bebê sendo tão imatura. Não, não se vive para ser mãe. E segui procurando.

Talvez se viva para viajar, ter um grande amor, plantar uma árvore, ver suas melhores amigas casarem ou descasarem, para ser madrinha, para ver seus ídolos da infância falecerem. Tudo isso? Nada disso? E segui procurando. Então pra que? Pra quem? Por que? Por que acordo todos os dias? Vivemos para amar quem com certeza um dia irá nos magoar? Vivemos para ganhar dinheiro para adquirir coisas que sempre, mas sempre quebram, estragam e acabam? Vivemos para rezar, pedir paz, e a paz logo vai embora, tudo vai embora, todos vão embora. Se tudo acaba, alguém pode me explicar para que diabos se vive?

Acho que se vive para simplesmente se viver...

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Cedo demais para chorar


Não era nem 6:30 e meus olhos já estavam abertos, dessa vez queria que fosse diferente, queria aproveitar os últimos minutos ao teu lado, em silêncio, queria gravar todos os detalhes do teu corpo, todos os traços do seu rosto. Minha barriga doía de nervoso, tristeza, saudade antecipada. Seus olhos cerrados, o rosto sereno, como uma criança que dorme sem as preocupações da vida. Cheirei seu pescoço, deitei sobre seu peito. Não queria chorar, era cedo demais. Naquele momento pedi que o tempo parasse, ou que Deus me devolvesse mais um dia. Mas ele não atendeu meu pedido, talvez não pudesse.
Naquele almoço eu poderia ter comido mais devagar e ter conversado mais, naquele jantar poderia ter comido menos e mais depressa, poderia ter bebido mais também, ter te acompanhado nas tuas loucuras, dormido menos. Ter te dado beijos mais duradouros, ter trepado até amanhecer.
Droga de tempo que não volta! Droga de hora que passava rápido demais. Nada adiantava, eu estava lá de novo, prestes a partir, mais uma vez engasgada até onde se pode sentir falta de ar. Engasgada de ir embora, engasgada de você nunca voltar. Engasgada de você sempre sorrir, sempre fazer a coisa sensata, correta e educada. Engasgada de te amar.
Minutos mais tarde já escutava a vaca da vizinha de cima com seu mesmo salto alto das 7 da manhã, desfilando sob nossas cabeças.
Seus braços me abraçaram levemente com sua deliciosa preguiça matinal, tua mão acarinhou meus cabelos e teu semblante despreocupado deu lugar a testa franzida. Nos olhamos, como uma promessa de que a vida não vai acabar antes que acordemos sempre juntos. E com a certeza que para sempre vamos nos amar mesmo com o desgaste das olheiras e remelas. Respirei aliviada e mesmo distante de Deus eu senti que ele nos abençoa.
Queria ter agradecido os quatro dias maravilhosos que me proporcionasses, queria ter dito que não queria partir, mas não consegui dizer nada, sentia minha garganta embolar e meus olhos arderem. Não queria chorar era cedo demais... Ainda bem que não preciso falar, ainda bem que você me entende com teus olhos, me acalma com teus braços. E fala tudo que tem para ser dito por nós.
Dói demais toda vez que vou embora. Quanto tempo vou ficar sem teu sorriso? Sorriso de menino levado, boca entreaberta, língua entre os dentes. Quando você sorri, doce, imagino meus filhos. Exatamente com a mesma ironia pura estampada na cara: um misto de esperteza, com insegurança disfarçada.
Quanto tempo sem ouvir você cantar as músicas que gosto inventando as partes que desconheces? Quanto tempo sem ouvir sua bronca educada porque não tem coragem de brigar comigo quando me olha nos olhos?
Dói demais partir, dói ainda mais saber que não sei quando irei voltar. Mas tenho certeza que volto para você, cedo ou tarde. Volto para voltar a te amar.
Nós, poesia com rima, brega, porque amor é brega, romantismo é brega, eu adoro ser brega por você e para você. Sabemos exatamente o que queremos, rimamos para que exista cumplicidade.
Voltemos para as nossas rotinas, vidas, linhas, uma redação com margem, tamanho e estilo redigidos por você. Um diário sem limites para mim.

Dói demais ter que caminhar sozinha um caminho que sei que foi escrito para que nós dois percorrêssemos juntos, dói demais não ter você para me puxar pela mão para que caminhemos no mesmo ritmo, compasso, tempo. Dói demais não ter você para me ensinar a tomar a melhor decisão. Dói demais te deixar para trás. No avião deixei que as lágrimas lavassem meu rosto, mas era tarde, tarde demais para chorar.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Mê vê uma porção de batatas? E Outra de amor...

São duas da manhã, já tentei ler um livro chato para que o tédio e o cansaço cerrassem meus olhos, mas não tive sucesso. Já tentei agarrar Tobias bem forte, para enganar a solidão, mas bichos de pelúcia me causam tudo que termina com ite, rinite, conjuntivite alérgica, sinusite. Ainda mais com esse tempo, não sei quem anda mais confuso, São Pedro ou eu.
A cama estava fria, por mais que me embrulhasse em dez cobertores, ainda assim sentiria frio. Resisti ao máximo vir escrever, porque somente desta vez eu não queria dar motivo nenhum para brigas. Fui proibida de escrever, não diretamente, mas sei o quanto isso lhe incomoda. Estamos em pé de guerra. Todo dia um motivo novo velho, uma ligação não atendida, uma mensagem não respondida, ciúme dos nossos amigos. Estou cansada de brigar. Brigar só é bom quando se pode fazer as pazes fazendo amor, senão enche o saco, dá dor de cabeça, prisão de ventre, preguiça. Tem dias que acordo briguenta. Brigo com minha franja, com meu porteiro, com meu chefe, com você. Parece que levanto com intenção de ser insuportável e passo o dia inteiro cumprindo meu dever de casa.
Quando era criança lembro de irritar meu pai só para ter um minuto da atenção dele, mesmo que resultasse em um puxão de orelha, uma bronca. Tempos passaram e eu continuo irritantemente igual. A busca da atenção só para mim continua sendo meu foco. Foi por isso que entrei na dança, queria ser melhor que minhas amigas em algo, já que não me achava bonita.

Pelo menos quando estou dançando a atenção é quase toda minha, se eu realmente me esforçar e se assim quiser.
Minha cabeça anda doida, cada hora quero uma coisa nova, ando consumista e sempre falei mal do consumismo. Ando neurótica e sempre falei mal das minhas amigas que se desesperavam quando os garotos sumiam no dia seguinte. Ando me comportando mal. Sempre senti medo de dizer EU TE AMO. Quando menina sentia medo de dizer e não sentir de verdade, ter que voltar atrás era uma atitude muito humilhante para mim. Outras vezes falei porque senti medo de ser sincera, magoar, e até por pena. Respondia “também” sempre que as palavras eram faladas por alguém que eu não sentisse o mesmo. Com o tempo fui aprendendo que EU TE AMO não pode ser dito como quem escolhe uma refeição em um cardápio. Disse EU TE AMO algumas vezes, em outras respondi "obrigada". Amar não é fácil, depois que se diz essas palavras sua responsabilidade muda. A pessoa que você ama passa a ter mais valor que seu próprio amor próprio, mesmo que você não queira. EU TE AMO me consome, me escraviza, me sufoca. Sinto medo de não ouvir o recíproco, ou de pressionar para que seja dito sem que realmente sintam, sinto medo da pena que possam sentir de mim. EU TE AMO não é garantia de nada, meu pai traiu minha mãe dizendo qua a amava, e alguns dos meus namorados também. Quando o amor é falso, a mágoa é tão grande que você o trai amando justamente a falta dele.
Porque amor, meu amor, não se pede, é triste, eu sei bem. É triste ouvir a música sem ter o par para dançar, são tristes as manhãs que prometem mais um dia sem você, são tristes as noites que cumprem a promessa. É triste respirar sem sentir aquele cheiro que acalma minha busca. Aquele cheiro que dá vontade de trepar pro resto da vida. Preferia nunca ter ouvido EU TE AMO, a ter ouvido e duvidado.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Só de mim basta eu

Acordei extremamente egoísta, meio autista. Sem vontade de agradar quem quer que seja. Se só eu existisse no mundo, eu realmente me bastaria. Sei que muitas pessoas gostam de mim e adorariam minha companhia nesta noite. Algumas até me amam, eu só amo umas poucas e desculpe assumir, mas hoje, não preciso delas.
Hoje não estou com a mínima vontade de sentar e cruzar as pernas, pouco me interessa se tenho bons modos ou não. Pouco me importa se mulher deve sentar assim.
Caso você insista em ficar aí sem minha permissão vou avisando: Hoje não quero cruzar minhas pernas, quero falar alto, falar palavrão, dar gargalhadas e gesticular, porque não dou à mínima se as pessoas pensarem que sou escandalosa e do tipo de mulher que não serve para casar.
Hoje quero colocar meu pijama GG, ouvir Chet Baker, acreditando que ele toca “My Funny Valentine” só para mim.
Não quero atender telefonemas inconvenientes, odiarei responder mensagens do tipo “o que vai fazer hoje?”, mas caso aconteça tenho a resposta na ponta da língua: vou me amar.
Não quero secar os cabelos com secador azucrinando meus ouvidos, estou pouco me lixando se parecerei um dos integrantes do Jackson Five ao acordar amanhã.
Não quero ir onde minhas amigas querem que eu vá, não quero agir como minha família quer que eu aja, quero cortar meu cabelo mesmo que meu namorado desaprove por acreditar que não me cai bem. Quero fazer o contrário do que todos querem que eu faça, não que ache que eles não têm razão, mas porque hoje realmente não quero querer o que as outras pessoas querem. Minha simpatia broxou sem esperanças de viagra, estou chata e egoísta. Só consigo pensar em mim. Primeiro eu, segundo eu, na terceira chance quem sabe eu possa desistir de mim mesma, porque muitas vezes enjôo das coisas sem qualquer explicação.
Quero comer um pacote de batata frita só para provocar quem acha que eu devo voltar a correr para diminuir minhas coxas grossas. Não quero mais malhar duas horas por dia, não quero mais ser uma ótima dançarina, quero aprender violão porque todos acham que eu vou desistir.
Queria um tapete mágico, como do Aladim, seria perfeito. Fugir do trânsito, conhecer todos os lugares do mundo, sem pedágio, imposto, combustível, sem cobrança. Se eu tivesse um tapete do Aladim, com certeza sairia na véspera do feriado. Iria com meu pijama desbotado, meus cabelos secariam no vento. Entraria nas nuvens, veria de cima a cidade toda iluminada deitada sobre meu tapete. Feliz era o Aladim que tinha o tapete e ainda encontrou o gênio para solucionar seus problemas. Ainda bem que tenho a mim, Chet e batatas fritas.

terça-feira, 13 de maio de 2008

Longe de mim, perto do coração


Namorar a distância não é fácil, dizem que sou louca, que somos loucos. Eu respondo que somos corajosos e teimosos. Namorar a distância é conviver com a insegurança, é virar de um lado para o outro atrás de aconchego na cama vazia. Namorar a distância é contar os dias no calendário, e principalmente os feriados. Namorar a distância é economizar moedas, usar roupas fora da moda, cortar a franja com a tesoura de papel, tudo isso para se ter o dinheiro da passagem no fim do mês. Namorar a distância é se assustar com a conta de telefone, é padecer de felicidade com o “bip” de mensagem. É desligar o telefone com vontade de ouvir mais uma palavra de conforto, e mais uma, mais uma, sempre mais. Namorar a distância é procurar forças internas para seguir em frente, porque as externas dizem que namoro desta forma não existe. Namorar a distância é sentir falta, é esquecer o gosto do beijo, é passar vontade. Namorar a distância é conviver com a ansiedade, é devorar uma barra de chocolate por cada ausência inexplicada. Namorar a distância é sentir o peso da solidão sem ao menos estar sozinha. Namorar a distância é conferir a caixa de e-mails com uma freqüência que beira a compulsão. É chorar do nada. É acordar do nada. É morrer de medo do nada que fica no estômago. Namorar a distância é valorizar cada minuto da companhia do namorado. Namorar a distância é estar na festa de família só, festa do trabalho só, encontro dos amigos só. Namorar a distância é ter que ficar provando para todos que você é fiel independente de todas as dificuldades. Namorar a distância é cogitar enlouquecer. Namorar a distância é difícil, mais difícil que manter dieta, mais difícil que ficar acordado no Senhor dos anéis e entender os filmes do Almodóvar. Mais difícil que malhar todo dia, mais difícil que não falar mal dos outros, mais difícil que saber se “se não” é junto ou separado, muito mais difícil que deixar de falar um palavrão. Namorar a distância é realmente difícil, só não é mais difícil que ficar sem o namorado.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Devolva minha tristeza

O que está acontecendo comigo ultimamente? Crises existenciais, noites em claro. Estou assustada, passei o dia inteiro procurando um remédio para tais sintomas, medo, insegurança, frio na barriga, ciúme, saudade. Deveria existir uma pílula (odeio remédio de gotinhas, não suporto o gosto ruim que fica na boca). Um comprimido que nos deixasse livre de toda essa angústia. Custe o que custasse valeria cada centavo. Pagaria qualquer quantia para me ver livre do sofrimento que me causas.
Acho que não gosto da felicidade, odeio estar feliz, fico procurando coisas para ficar triste, cutucando feridas, fazendo joguinhos infantis. O estar feliz me assusta, me consome, porque toda felicidade esconde a pessoa que sempre fui. Me olho no espelho e não me reconheço. Vejo você, e é por você que acordo. Por você que durmo. O que procurar agora? Sinto que te odeio. Parece que a vida não tem mais sentido, porque sempre procurei a felicidade e agora que encontrei não sei o que será de mim. Não sei administrá-la. Sempre fui assim, comprava um livro e lia em três dias, sem pensar nos próximos, um drops de bala também, era devorado em poucos minutos.
Perdi minha identidade, perdi minha metade, porque uma metade era eu, a outra você, só não sabia que você era você. Agora sou toda você e eu o odeio por isso. Odeio o que fez com minha vida, odeio o fato de seres perfeito. Sempre fala a coisa certa na hora certa, ao contrário de mim que sempre gaguejo, choro e termino tudo pedindo desculpas. Acabaram-se minhas argumentações. Você mostra um caminho bonito e simples, eu procuro o escuro e lodoso.
Tenho um homem lindo e estou planejando sufocá-lo com minhas inseguranças. Quero que ele perceba o quanto sou chata, louca, ciumenta. Quero que ele enjoe do meu romantismo, da minha perversão, da minha inconstância. Quero que ele sinta o fardo do meu peso em ser tão medrosa e neurótica. Não sei por qual razão, mas a felicidade me escraviza, me paralisa. A felicidade me deixa triste. Você me roubou de mim mesma, ando tão ciumenta que estou com ciúmes de mim.
Você transformou meu mundo em limpo, verdadeiro e eterno. E esse mundo é tão novo pra mim, que eu te odeio. Porque sinto medo de me perder. Ando cansada de precisar de você o tempo todo para me telefonar e dizer que está tudo bem.
Odeio a felicidade, porque se ela acabar, não sei mais se consigo voltar pra casa. Não sei o que será de mim. Sinto saudades da tristeza que vivia antes de ter te conhecido. Era eu, entende? Sozinha, incrédula. Era eu, no meu mundo infeliz, mas conhecido.
Vivo com ciúmes do seu silêncio, porque tenho medo do quanto ele te consome. Sinto ciúmes do seu sono, da sua fome, porque eles te levam do meu foco.
Estou te odiando muito, duvidando de você, tudo isso porque não sei viver no teu mundo, não sei lidar com tua doçura, com a felicidade que me proporcionas. Estou fazendo isso porque sei que és persistente. Todas essas súplicas para que você desista de mim, é um jeito maluco de pedir que você não desista nunca. Por favor, não me devolva a insignificância. Ensina-me a olhar o mundo com teus doces olhos.

domingo, 4 de maio de 2008

Sambinha


Domingo, dia de samba, de feijoada, de conversa alta pela sala, adoro e odeio domingo, adoro e odeio toda essa zona que é o domingo. O telefone não pára de tocar, ninguém nunca atende, somente eu, e nunca é para mim. Minha mãe começa as chantagens logo de manhã, se não colocar "Alcione" eu coloco carne no feijão, se não atender ao telefone acendo um cigarro fora da janela. As vezes ela parece uma criança. Campainha, mais falação, mais cigarro e com certeza fora da janela, menos feijão e com certeza com carne, e “Alcione” bem alto para garantir que a irritação está completa. Sinto saudade da paz da semana por breves minutos. Para todo mundo paciência tem limite, a minha só vem depois que me acostumo com todo circo armado. Depois me divirto, rio da piada sem graça da minha mãe em troca de picles. Danço com quem me pede, até com o cachorro para fazer graça. Mais telefone, mais gente, mais samba. Queria que ele tivesse aqui conosco, seria perfeito, a família louca e namorado perfeito. Tudo no mesmo dia. E me salvaria das piadinhas do tipo "qual o próximo estado Acre?", "quanto tempo será que esse vai durar?", "Ah! Carlinha porque não namora esse, ou aquele?". Todos o conheceriam e se apaixonariam como eu, tenho certeza. Assim como no dia que eu o conheci, quando coloquei os olhos perante a tanta ternura. Não sei definir exatamente, mas foi uma mistura de alegria com melancolia, receio com devaneio, infantilidade com sensualidade, assim como o samba que toca no aparelho de som, harmonioso e apaixonante. Todos deveriam ter o prazer da companhia dele. Eu morreria se todos tivessem o prazer de vê-lo vestir o jeans, arrumar os óculos sobre o rosto e calçar o chinelo próprio para banho antes de tomá-lo. Todos passariam a entender o porquê de toda essa espera, o porquê de tanto esforço. Criticam por desconhecimento, se limitam a encontrar fatores que seriam rapidamente explicados se vissem a maneira com que ele me toca e me olha. A forma carinhosa que alisa meus cabelos antes de dormir, a paciência que cuida das minhas dores acarinhando minha barriga depois de um jantar que não caiu bem. As pessoas não entendem o porquê estamos juntos porque realmente não vêem. Se vissem entenderiam o porquê tenho tanta certeza que ele combina com toda loucura do nosso domingo. Louco, doce, alegre, saudoso assim como meu samba preferido, meu namorado, meu sambinha.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Sexta-feira difícil

Hoje foi um dia daqueles, o despertador tocou nove da manhã na tela dizia _Acorda! O dia está lindo, você está linda (música de bebê no fundo). Geralmente esse tipo de estímulo resolve, acordo de bom humor. Hoje não, joguei o infeliz longe, a única coisa que conseguia pensar era que não deveria ter dormido às 2 da manhã. Me dei conta que estava atrasada, dentro de uma hora tinha que estar no trabalho, merda de trabalho, pulo da cama, não lembrava se tinha colocado o pé direito ou o pé esquerdo no chão, mas lembro que tentei consertar e fingi que coloquei o pé direito. Fui repetindo para mim mesma, o dia vai melhorar, não vou me atrasar e na certa ele vai me ligar. Faço rima quando estou mau humorada, rimas me deixam muito mais irritada, fala sério, não existe coisa pior quando estamos de péssimo humor e alguém nos diz "relaxa, não te estressa" ou então "não fica com essa cara". Tomo um banho para relaxar, um sabonete para o corpo, outro sabonete para o rosto, sabonete íntimo. Xampú, condicionador, barbeador nas axilas. Bucha vegetal, óleo corporal. Cansaço saio do banho exausta. Visto meu uniforme, odeio uniforme, tomo cuidado para não perder minha identidade dentro do maldito uniforme. Odeio azul marinho, desde o colégio, Entrei na universidade adivinha a cor do uniforme da Educação Física? Pior, pior, me formei, fui contratada, de presente da empresa ganho uniforme, adivinhem a cor? Deve ser carma, acho que vou me casar de azul marinho para tentar superar o trauma. As pessoas adoram a palavra superação, se uma pessoa portadora de necessidade especial vira atleta ele é um vencedor, se superou dentro das suas limitações físicas ou mentais, se uma pessoa mais velha aprende a usar um computador também tem suas glórias, superou também suas limitações. Consequentemente se o azul marinho me persegue e uso ele no dia mais importante da minha vida vou estar me superando (droga odeio gerúndio, se não tivesse passado por um dia difícil reescreveria essa frase). Eu de azul marinho indo de ônibus para o meu trabalho, atrasada, chovia muito, como se não bastasse ter um Audi para eu odiá-lo, um idiota passa em uma poça d'agua e me molha antes que a chuva tivesse essa chance. Mas não importa estou linda de uniforme, no meu uniforme azul marinho, molhado. Chego ao trabalho e adivinha a primeira coisa que me dizem? "Bom dia Carlinha, mas tu tá com uma cara péssima hein? Tá estressada? Não fica com essa cara". Puta que merda, tudo que odeio numa mesma frase. Bom dia o cacete, só se for pra você e para todas pessoas que conseguem sorrir e malhar num dia de chuva logo após o feriado. Se ao menos você me ligasse, ou mandasse uma mensagem dizendo que sente saudades, se ao menos tivesse respondido o e-mail que fiquei escrevendo até as duas da manhã. Não, dessa vez não colocarei a culpa em você, por tirar meu sono, tenho que ser mais responsável pelos meus atos. Mas se ao menos você desse um sinal. Pelo menos ficaria feliz no meu uniforme azul.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Odeio conscientemente...



Tá, você está certo, eu realmente odeio muita coisa. Lamento que fiques tão decepcionado com o fato de eu dizer tudo que penso. Você deve não gostar de muitas coisas, só não parou para pensar e listar como me dei ao trabalho hoje. Ou de repente acredita que odiar atrai vibrações negativas. Eu sinceramente prefiro deixar bem claro que e quando não gosto, e que ainda posso vir a odiar.
Dane-se o que você e as outras pessoas pensam, não preciso gostar de tudo, também não preciso que gostes de tudo em mim. Um dia talvez você se dê conta da importância em ser tão seletiva.
Definitivamente odeio quando meu telefone toca de manhã, não importa se é cedo ou tarde, meu dia começa no período vespertino, desligo o celular, mas não adianta, sempre tem um abestalhado que liga para o telefone de casa. Pior que telefone de manhã só quando o telefone toca e é algum tipo de tele marketing e pela manhã, fala sério, chego a ter pena dos coitados e do quanto odeio e rogo praga para que algo aconteça para que não voltem a me ligar. Odeio quando está chovendo e molho minha meia. Odeio quando esqueço de fechar a braguilha da minha calça jeans. Odeio tomar anticoncepcional e seus efeitos colaterais, odeio muito mais a pílula do dia seguinte. Odeio minhas estrias e celulites quando cruzo as pernas. Odeio quem fala mal de Florianópolis e vem morar aqui. Odeio quem tem mau hálito e quem dispensa o uso de desodorante na academia. Odeio quem usa perfume forte pela manhã. Odeio vomitar, mas tem horas que seria extremamente aliviante se o fizesse. Odeio esperar, mas nessa não devo estar sozinha, pior que esperar só esperar o ônibus quando se perde o mesmo. Odeio que me mandem falar mais baixo e menos palavrão. Odeio fazer calo no dedinho do pé. Consequentemente odeio sapato novo, diferente de milhões de mulheres. Odeio quem generaliza as pessoas dizendo que somos todos iguais e membros da sociedade. Odeio quem diz que não tem tempo para ler. Odeio quem lê Paulo Coelho. Odeio quem teve estudo e escreve quiser com "z", de repente junto, embaixo separado. Odeio diminutivo "coloca o pezinho aqui", coloco o pezinho no meio da sua cara se não falar como homem. Odeio homofobia. Odeio mudinho, na mesma proporção que odeio tele marketing de manhã. Odeio o caso Izabella, e todos os oportunistas que se aproveitam de uma tragédia comum num país em que milhares de crianças são assassinadas por ano. Odeio coca zero, e quem diz que coca zero é igual coca light. Odeio quem diz que professor de educação física só brinca de bola, e odeio mais ainda professor de educação física que dá bola nas aulas e vai tomar café. Odeio café frio, comida fria, Homem frio. Odeio homem que não dá a mínima para o prazer de uma mulher, e que não liga no dia seguinte. Odeio ver bichos sofrendo, isso inclui pessoas, que às vezes tem comportamento de bichos. Odeio Kaiser, mas na falta de Original, Skol e Bohemia, chupo essa manga. Odeio maçã amarelada. Odeio com toda força do meu ódio quem fala mal de alguém da minha família, isso inclui até minha irmã chata Deysi. Odeio quando acho uma carne no meu feijão. Odeio pasta de dente ressequida quando algum imbecil esqueceu de colocar a tampa. Odeio xampu "dois em um". Odeio quando me ligam no restrito. Odeio quando pedem dinheiro emprestado e não me pagam. Abomino velhos tarados. Odeio quem diz que samba é pagode. Odeio o cheiro da lasanha congelada de bacalhau que minha mãe compra. Odeio quem acende cigarro quando estou fazendo minhas refeições, e quem derruba cerveja no meu corpo ou em minha roupa. Odeio beijo molhado demais, odeio quem enfia a língua no meu ouvido. Odeio quem me critica sem fundamentos e argumentações coerentes.
Prefiro odiar tudo que ficar consentindo a todos. Prefiro odiar muitas coisas porque acredito que quem ama muito tudo é porque de fato não ama nada, nem ninguém verdadeiramente.

Cinco Dias

Cinco dias,
Cinco dias para lhe fazer apaixonar, cinco dias para uma cidade desconhecida, cinco dias para matar e deixar saudade por quem sabe uns 5 anos...

Cinco dias para conhecer teus 5 sentidos: tato, olfato, paladar, visão e audição.

Cinco dias para tocar cada pedacinho do teu corpo,
Cinco dias para memorizar o teu cheiro,
Cinco dias sentindo o gosto do teu beijo,
Cinco dias para enxergar teu mundo,
Cinco dias ouvindo tua voz de pertinho,

Cinco dias para mostrar o quanto posso te fazer feliz por mais de cinco dias.
Cinco dias parece pouco quando se quer um amor por mais de cinco dias.
Cinco dias para perder o medo.

5 pentes, 5 colheres de arroz, 5 orelhas, 5 pés, 5 mães, 5 calças jeans, 5 banhos por dia? pensando por esse lado 5 parece muita coisa. Que os cinco dias sejam na medida certa. 5 parece um número coerente.

Como os cinco litros de água que meu pai comprava para o final de semana na praia. Como a tirinha com cinco quadradinhos da barra de chocolate. Já pensou o cebolinha com oito fios de cabelo? As mãos com quatro dedos, os dedos com quatro unhas, mais de 5 vogais?
Realmente 5 dias parece tempo suficiente para querer você mais e mais. Afinal foi em menos de cinco dias, ou melhor menos de 5 horas que você me fez impressionar.
Se bem que o Brasil bem que poderia ter ganhado mais que 5 copas... A participação do João Bosco em 2006 aqui em Florianópolis poderia ter tido mais que 5 músicas, e o Flamengo mais de 5 títulos.

Se eu pudesse faria com que esses cinco dias ganhassem 5 horas para vivermos um pouco mais, e mais 5, e mais 5...

Ahhhh! Ensaio sobre a cegueira também ganharia mais 5 páginas... Em compensação teria sempre 5 anos para não precisar crescer e não me preocupar 5 vezes mais com os problemas do mundo.
Prometi a mim mesma, cinco dias sem pensar nos problemas da sociedade.

Passa-se os anos, e ainda continuo com meu desejo de criança: ter super poderes.

Transformar toda essa distância em 5 km, ou você em 5 Helanos, assim garantiria um só pra mim.

Pudera sentir você 5 vezes mais presente, para alimentar minha segurança 5 vezes mais. É!!! estou 5 vezes mais exagerada, 5 vezes mais insegura, tudo isso porque estou me sentindo 5 vezes apaixonada.

Quem dera pudesse transformar nossos cinco dias em 5 eras.
Que você me amasse em cinco dias.


escrito dia 6/04

Sem pseudônimos


Me chamo Carla Quadros, na verdade Carla de Carvalho Quadros, resumo porque tenho preguiça de escrever meu nome inteiro, não que não ache bonito, não que não tenha orgulho, pelo contrário, o “de Carvalho” vem de minha mãe, cujo tenho profunda admiração e adoração. Nasci no dia 18 de Novembro as dez da noite. De parto cesárea, minha irmã sempre pegou no meu pé fazendo analogia com o tamanho da minha cabeça e o estilo de parto sucedido. Nunca entendi direito, porque também abriram a barriga da minha mãe para tirarem ela, mas o fato da cabeça dela ser menor dava certa autoridade para caçoar de mim.

Sou escorpiana nata, quer dizer, nem sei se sou porque não ligo a mínima para esse lance de horóscopo, não sei meu ascendente, nem o bicho do meu horóscopo chinês. Mas quando me perguntam sobre meu signo sempre dizem “você deve ter o gênio forte, deve ser ciumenta e deve ser quente”. Assumo as três características, mas completo que sou bem mais que isso, um simples horóscopo, sou complexa. De fato os fatores astrológicos devem influenciar nas nossas vidas, não estou duvidando, nem fazendo pouco caso, simplesmente isso não me interessa. Dizem que ler horóscopo atrasado dá azar, deve ser por isso que minha vida às vezes parece andar pra trás. Às vezes caio em tentação e leio no banheiro, como passatempo, quando acabam todas as colunas e matérias interessantes ou não. Isso deve acontecer uma ou duas vezes no ano quando não estou devorando nenhum livro.

Quando pequena fui atropelada, duas vezes, não no mesmo dia por dois veículos diferentes, mas em dias diferentes por um mesmo veículo, um automóvel. Ou seriam dois automóveis? Na primeira vez tinha 5 anos, magrela, hiperativa, fui pega na calçada de casa quando brincava com uma de minhas primas. Na segunda com 11 anos, pouco menos magrela, nem menos cabeçuda, e bem mais rebelde, dizem que me joguei na frente do carro, eu sinceramente não lembro como foi, mas lembro exatamente de ver a pouca vida passar diante dos meus olhos, aquilo que dizem que acontece quando partimos dessa vida. Nesta última fiquei cega por duas horas. Minha mãe deve ter orado muito porque me recuperei rapidamente, dos males o menor.
Falando de partida não tenho uma religião definida, respeito às pessoas e suas crenças, mas abomino entidades, seitas. Minha mãe é espírita e diz que eu deveria ser, diz que minha luz e sensibilidade são maiores que as das minhas irmãs (não que isso seja melhor, afinal ela sempre soube nos educar mostrando que nos ama em igualdade), mas que eu deveria adotar o espiritismo para combater meus problemas interiores.
Eu sinceramente não sei. Prefiro rezar do meu jeito, até porque não sei rezar de outro jeito porque matava a catequese, nunca decorei um pai nosso, muito menos uma ave maria. Mas agradeço a Deus todos os dias por me fazer acordar e por me ajudar a dormir.

Passei minha infância brincando de correr pelas ruas, de dançar pelas salas, e vice e versa, de dançar, de correr, em qualquer lugar, porque todo lugar é lugar para quando se tem vontade e respeito. Pela dança entrei na universidade, seria uma ótima professora de dança se a dança, ou as pessoas da dança não fossem tão enjoadas, tudo bem que me dava postura, e deixava meu corpo bonito, mas o que é um corpo enrijecido perto de uma cabeça vaga?

Dentro da universidade descobri o auto-conhecimento e o descontrole, terminei meu namoro de 3 anos porque descobri que não o amava só gostava da proteção que meu quase noivo me dava, descobri também que não era tão boa dançarina quanto achava ser, que as pessoas não eram tão saradas como deveriam cursando educação física.
Conheci amizade verdadeira para além de 4 anos de curso. Tomei meu primeiro porre, vomitei na pia da casa de um colega e vi minha melhor amiga desentupir a pia por amor a mim. Descobri que meu pai não era tão herói.
Aprendi a me arrumar e me vestir melhor (ah! Algumas pessoas não acham, mas eu acho que evolui fashionmente, rs). Me dei conta que eu era bonita do meu jeito diferente de ser. Dizem que a beleza não é fundamental, que o que importa é a beleza interior, acho que quem inventou isso foi um bonito que nunca ficou na pele de um feio para sentir o drama de nunca ganhar um beijo na salada mista.
A trilha sonora da minha vida começa com “C”, Cartola, Clara Nunes, Cazuza, Chico Buarque. Samba, rock, Bossa nova. Ou seria MPB? Sei lá...

Filmes, gosto de muitos, lembro de poucos, não que não tenham sido importantes, mas porque minha cabeça realmente não os memoriza, não sei o que acontece comigo, troco nomes, atores, diretores. Vejo uma, duas, três, quatro vezes, em todas rio, choro, me surpreendo, como se tivesse visto pela primeira vez e não soubesse o final. Por isso se algum dia quiser me indicar um filme e compulsivamente não agüentar para contar o final, não se preocupe, eu provavelmente esquecerei, chorarei como se nunca tivesse sabido.

Durante muito tempo não gostei dos meus cabelos, achava-os grossos demais, e disformes. Não gostava também da minha boca, cujo segundo acidente que falei a entortou. Gostava dos meus olhos e da forma puxadinha que faz quando sorrio. Engraçado ninguém nunca elogiou meus olhos. Hoje me olho no espelho e gosto do que vejo, exceto na semana que antecede meu período menstrual.

Hoje com 24 anos, sou vegetariana, porque não posso suportar as atrocidades que nós seres “humanos”, fazemos com os outros seres que aqui habitam esse mundo. Nos divertimos a custas deles, os torturamos, e nos alimentamos com seu sofrimento, com que direito? Porque possuímos um telencéfalo altamente desenvolvido e um polegar opositor? Você pode estar aí dizendo “existe coisa pior”, existe mesmo, fechar os olhos é bem pior, por isso faço minha parte. Não mato bicho algum. Por mim ser algum jamais vai dar a vida. Pelo menos não diretamente.

Ah! Ando apaixonada, uma mistura de loucura, com felicidade. Me apaixonei antes de conhecer e quando conheci morri de amor. Ele tem tudo que eu admiro e não tenho: responsabilidade, organização e ponderação. E mais um monte de coisa que temos em comum, modéstia parte: inteligência, fragilidade, sensualidade, tesão, cheiro bom. Só tem um único problema, mora a muitos kilometros de mim. Ando pensando em casar, assim de branco, com benção de Deus, das nossas famílias, talvez numa praia, ou num sítio. Acho que os pés têm que estar descalços para sentir a energia do chão, sendo areia ou grama. Nossos convidados têm que estar dispostos em círculo para que a energia flua, e para que eu possa ver o rosto de todos, sem que os mais altos não fiquem na frente dos mais baixos. Ele me prometeu que não precisarei lavar a louça todos os dias, nem fazer comida em todas as refeições, disse também que não se incomoda de tirar aquela sujeirinha da pia que fica quando se lava louça. Primeiro decidimos ter um cachorro, para depois filhos.

Não me canso de falar de mim. Também ninguém melhor para me descrever e me entender, mas tem horas que nem eu mesmo me compreendo, tem horas que queria ser menos impulsiva, compulsiva, anciosa. Tem horas que gostaria de falar menos também. Como agora, era só para escrever um breve perfil acabei contando o que não lembrava, e queria e que provavelmente esquecerei quando fizer logout.