domingo, 19 de outubro de 2008

Um brinde a independência

Um amigo me disse esses dias, "estava sem nada para fazer, sentei minha bunda no computador, li meus emails, vi a porcaria do orkut, li algumas notícias e fui ver se tinhas atualizado a merda do teu blog". Junto com a merda ele disse "teu último texto era tão chato, que não li duas linhas". Porque diabos ele queria ler algo que ele julgava uma merda chata? Cheguei a conclusão que as pessoas gostam do sofrimento alheio para sentir superioridade das suas vidas medíocres, superficiais e repletas de futilidades. O fato de você ser mais sensível que as outras pessoas lhes dá abertura para chamarem de idiota. Como se você escutasse tudo e sorrisse sutilmente para disfarçar a ânsia de nojo. Mal sabem elas que minhas críticas mentais são mais importantes para o meu mundo. Porque foda-se o que você pessoa insensível pensa sobre mim. Foda-se! “Clarice” me entenderia, e pra mim isso me basta. Mas dando uma olhada nos meus antigos textos notei como minha vida mudou nos últimos tempos, falando em tempo, ele decidiu transformar os segundos em notas de reais. Sou uma nova pessoa, ou uma pessoa nova, que ainda não sabe se está do lado dos medíocres hipócritas ou do lado dos sensíveis depressivos. Tudo que sempre sonhei aconteceu, estou morando "sozinha", faço minha comida, lavo a minha roupa, limpo a "minha" casa. Estou sozinha, sozinha. Chego em casa e dou boa noite aos travesseiros e aos poucos bichos de pelúcia que me acompanharam. Não sofro mais de problemas financeiros, sou uma profissional que ganha por aquilo que merece. Mas porque diabos não me sinto feliz? Lembrei do velho ditado, dinheiro não traz felicidade. Tenho dinheiro e não tenho com quem gastar, porque meus amigos estão no passado que julgava ser fracassado, porque contávamos os reais para rachar a conta e a gasolina. Você nunca está feliz com o que tem, o ser humano é passivo de ser infeliz, não existe conto de fadas, não existe final feliz, existe o momento feliz na exata hora que ele acontece, o momento triste que depois vira piada e se torna um momento feliz, e o para sempre momento triste, esse realmente notamos na hora, depois nossos cérebros, ou seriam corações? Fazem questão de esquecer. Estão acontecendo coisas diferentes comigo, sempre achei que não conseguiria sobreviver sem um rádio, sem uma tv e sem internet. Estou sobrevivendo, ou melhor, descobri que posso viver até melhor sem eles. Fugi da papagaiada política, da voz do Brasil, dos seqüestros e assaltos, das novelas. Sinto falta dos filmes, somente dos filmes. Descobri que não conseguiria viver sem microondas, e eu nunca tinha notado a importância dele em minha vida. Talvez porque tinha tempo e a minha comida quentinha em cima da mesa.
Vou comprar um carro, a chuva andou me atormentando nos últimos dias em que minha meia ficou molhada dias inteiros. Vou ter um carro e ele pode até ser cabine dupla porque não tenho companhia. Vou colocar silicone, porque estou cansada da falta que faz ter peito grande quando tiro os enchimentos. O mundo me comprou, estou usando uniforme azul marinho e feliz, porque ele agora me dá um bom retorno financeiro.
Minha mãe me disse que meu cachorro está tomando antidepressivo e eu só penso em substituí-lo por outro para não precisar me encher deles também.
Meu namorado estava mais perto antes, tínhamos o computador que nos unia, agora tenho contas de telefone gigantescas, mas foda-se porque é meu único gasto ultimamente. Falando em namorado ele me pediu em casamento há tempos atrás, e agora eu o pedi, e de certa forma nenhum dos dois aceitou. Como uma música nada romântica. Cada um no seu quadrado foi o que a vida decidiu por nós, ou nós decidimos para vida. No fim do ano passaremos dias juntos, estamos programando as horas, quer dizer eu estou sempre programando e ele sempre reclamando do pouco tempo, mas porque ele não me ajuda a programar? Não sei, Não sei...
Sinto falta da minha mãe e do beijo que ela me dava quando chegava em casa. Sinto falta das brigas por não limpar a casa, ela sentiria orgulho de mim em chegar à minha casa e ver a limpeza no chão, nas pias e no banheiro. Sentiria pena se visse a sujeira no meu coração. Virei gente grande, tenho um bom trabalho, boas revistas, boas toalhas e lençóis novos. Sou dona do meu nariz, não dou satisfações, sou dona da independência que criei. E dona da solidão que sustento. Não tenho nada, nem ninguém.