sexta-feira, 2 de maio de 2008

Sexta-feira difícil

Hoje foi um dia daqueles, o despertador tocou nove da manhã na tela dizia _Acorda! O dia está lindo, você está linda (música de bebê no fundo). Geralmente esse tipo de estímulo resolve, acordo de bom humor. Hoje não, joguei o infeliz longe, a única coisa que conseguia pensar era que não deveria ter dormido às 2 da manhã. Me dei conta que estava atrasada, dentro de uma hora tinha que estar no trabalho, merda de trabalho, pulo da cama, não lembrava se tinha colocado o pé direito ou o pé esquerdo no chão, mas lembro que tentei consertar e fingi que coloquei o pé direito. Fui repetindo para mim mesma, o dia vai melhorar, não vou me atrasar e na certa ele vai me ligar. Faço rima quando estou mau humorada, rimas me deixam muito mais irritada, fala sério, não existe coisa pior quando estamos de péssimo humor e alguém nos diz "relaxa, não te estressa" ou então "não fica com essa cara". Tomo um banho para relaxar, um sabonete para o corpo, outro sabonete para o rosto, sabonete íntimo. Xampú, condicionador, barbeador nas axilas. Bucha vegetal, óleo corporal. Cansaço saio do banho exausta. Visto meu uniforme, odeio uniforme, tomo cuidado para não perder minha identidade dentro do maldito uniforme. Odeio azul marinho, desde o colégio, Entrei na universidade adivinha a cor do uniforme da Educação Física? Pior, pior, me formei, fui contratada, de presente da empresa ganho uniforme, adivinhem a cor? Deve ser carma, acho que vou me casar de azul marinho para tentar superar o trauma. As pessoas adoram a palavra superação, se uma pessoa portadora de necessidade especial vira atleta ele é um vencedor, se superou dentro das suas limitações físicas ou mentais, se uma pessoa mais velha aprende a usar um computador também tem suas glórias, superou também suas limitações. Consequentemente se o azul marinho me persegue e uso ele no dia mais importante da minha vida vou estar me superando (droga odeio gerúndio, se não tivesse passado por um dia difícil reescreveria essa frase). Eu de azul marinho indo de ônibus para o meu trabalho, atrasada, chovia muito, como se não bastasse ter um Audi para eu odiá-lo, um idiota passa em uma poça d'agua e me molha antes que a chuva tivesse essa chance. Mas não importa estou linda de uniforme, no meu uniforme azul marinho, molhado. Chego ao trabalho e adivinha a primeira coisa que me dizem? "Bom dia Carlinha, mas tu tá com uma cara péssima hein? Tá estressada? Não fica com essa cara". Puta que merda, tudo que odeio numa mesma frase. Bom dia o cacete, só se for pra você e para todas pessoas que conseguem sorrir e malhar num dia de chuva logo após o feriado. Se ao menos você me ligasse, ou mandasse uma mensagem dizendo que sente saudades, se ao menos tivesse respondido o e-mail que fiquei escrevendo até as duas da manhã. Não, dessa vez não colocarei a culpa em você, por tirar meu sono, tenho que ser mais responsável pelos meus atos. Mas se ao menos você desse um sinal. Pelo menos ficaria feliz no meu uniforme azul.

Um comentário:

Anônimo disse...

Lendo seu texto, lembrei-me de um dos meus autores prediletos: Charles Bukowski. A sua maneira de escrever é semelhante a dele.

Gostei dos teus textos, são bem escritos e com uma sinceridade profunda. Fico sempre feliz quando descubro pessoas que andam na "contramão".

Um abraço,
Samuka.