domingo, 4 de maio de 2008

Sambinha


Domingo, dia de samba, de feijoada, de conversa alta pela sala, adoro e odeio domingo, adoro e odeio toda essa zona que é o domingo. O telefone não pára de tocar, ninguém nunca atende, somente eu, e nunca é para mim. Minha mãe começa as chantagens logo de manhã, se não colocar "Alcione" eu coloco carne no feijão, se não atender ao telefone acendo um cigarro fora da janela. As vezes ela parece uma criança. Campainha, mais falação, mais cigarro e com certeza fora da janela, menos feijão e com certeza com carne, e “Alcione” bem alto para garantir que a irritação está completa. Sinto saudade da paz da semana por breves minutos. Para todo mundo paciência tem limite, a minha só vem depois que me acostumo com todo circo armado. Depois me divirto, rio da piada sem graça da minha mãe em troca de picles. Danço com quem me pede, até com o cachorro para fazer graça. Mais telefone, mais gente, mais samba. Queria que ele tivesse aqui conosco, seria perfeito, a família louca e namorado perfeito. Tudo no mesmo dia. E me salvaria das piadinhas do tipo "qual o próximo estado Acre?", "quanto tempo será que esse vai durar?", "Ah! Carlinha porque não namora esse, ou aquele?". Todos o conheceriam e se apaixonariam como eu, tenho certeza. Assim como no dia que eu o conheci, quando coloquei os olhos perante a tanta ternura. Não sei definir exatamente, mas foi uma mistura de alegria com melancolia, receio com devaneio, infantilidade com sensualidade, assim como o samba que toca no aparelho de som, harmonioso e apaixonante. Todos deveriam ter o prazer da companhia dele. Eu morreria se todos tivessem o prazer de vê-lo vestir o jeans, arrumar os óculos sobre o rosto e calçar o chinelo próprio para banho antes de tomá-lo. Todos passariam a entender o porquê de toda essa espera, o porquê de tanto esforço. Criticam por desconhecimento, se limitam a encontrar fatores que seriam rapidamente explicados se vissem a maneira com que ele me toca e me olha. A forma carinhosa que alisa meus cabelos antes de dormir, a paciência que cuida das minhas dores acarinhando minha barriga depois de um jantar que não caiu bem. As pessoas não entendem o porquê estamos juntos porque realmente não vêem. Se vissem entenderiam o porquê tenho tanta certeza que ele combina com toda loucura do nosso domingo. Louco, doce, alegre, saudoso assim como meu samba preferido, meu namorado, meu sambinha.

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